Veganismo
- Nutriversidade
- 30 de out. de 2018
- 7 min de leitura
Atualizado: 6 de nov. de 2018

Há um pouco mais de quatro anos atrás tive o presente de, em uma aula de biosfera na UFSC, conhecer a professora Paula (inclusive a mudança oficial aconteceu depois do semestre acabar e nunca tive a chance de agradecer a ela, se alguém a conhecer, por favor, compartilhe o contato. Minha eterna gratidão a essa professora) e acessar conhecimentos, que até então nunca tinha ouvido falar, sobre a principal causa do desmatamento das florestas: a pecuária. A natureza e manutenção do meio ambiente sempre foram assuntos que me moveram e tocaram muito. Desde pequena fui ensinada a negar sacolas desnecessárias, economizar energia, água, etc. Então, imaginem a minha reação quando descobri que a pecuária é a maior responsável pelo desmatamento da Amazônia.
Aproximadamente 70% da terra desmatada da Amazônia é usada como pasto, e uma grande parte do restante é coberta por plantações cultivadas para produção de ração (FAO/ONU, 2006). Para agravar ainda mais as consequências do desmatamento no Brasil, é a supressão da floresta amazônica a maior fonte de emissões de CO2 do país (Morton DC, DeFries RS, Shimabukuro YE, et al, 2006).
Hoje são 70 bilhões de animais mortos por ano no mundo, sendo que temos uma população estimada em 7 bilhões. O Brasil tem o segundo maior rebanho bovino e o segundo maior produtor de carne bovina no mundo. A pecuária bovina é responsável por pelo menos 50% dos gases do efeito estufa, principalmente do gás carbônico e do metano.

Depois desse primeiro choque foi impossível ir contra minha verdade de preservação da natureza e continuar comendo as mesmas quantidade de carnes que comia antes. Enquanto mudava meus hábitos a curiosidade por entender mais porque essas informações não eram divulgadas em todos os canais de comunicação fui descobrindo outros pontos que invalidaram meu consumo animal. Aos poucos fui parando em alguns dias da semana, depois parando totalmente com carne vermelha, e aí veio o frango, o peixe e então todo o resto. Até que finalmente me assumi como vegetariana e hoje vegana.
Mas afinal, o que é o vegetarianismo? Vegetarianismo é o regime alimentar que exclui todos os tipos de carnes. Costuma ser classificado da seguinte forma:
(a) Ovolactovegetarianismo: utiliza ovos, leite e laticínios na sua alimentação.
(b) Lactovegetarianismo: utiliza leite e laticínios na sua alimentação.
(c) Ovovegetarianismo: utiliza ovos na sua alimentação.
(d) Vegetarianismo estrito: não utiliza nenhum produto de origem animal na sua alimentação.
A filosofia do veganismo (não consumo de qualquer produto que gere exploração e/ou sofrimento animal) adota o vegetarianismo estrito no âmbito da alimentação. Por isso, costuma-se também chamar de “vegano” aquele que não consome nenhum alimento de origem animal (carnes, ovos, laticínios, etc.).
Obs: hoje também é comum encontrar o termo ‘Plant Based’ (à base de plantas) para descrever uma dieta vegetariana estrita, mas com um rótulo mais leve.
E por que?
São diversos os motivos que levam os indivíduos a se tornarem vegetarianos:
1. Ética
São abatidos mais de 10 mil animais terrestres por minuto no Brasil para produzir carnes, leite e ovos. A maioria destes animais são frangos, porcos e bois – animais que têm uma complexa capacidade cognitiva e sentem dor, sofrimento e alegria da mesma forma que os cães que temos em casa. Os animais são sencientes (capazes de sofrer e sentir prazer e felicidade), por isso a escolha vegetariana é uma escolha de não compactuar com a exploração, confinamento e abate destes animais.
2. Saúde
Diversos estudos associam efeitos positivos de saúde com a maior utilização de produtos de origem vegetal e restrição de produtos oriundos do reino animal. De acordo com inúmeros estudos científicos – cada vez mais freqüentes e publicados por instituições idôneas –, o consumo de carnes está diretamente associado ao risco aumentado de doenças crônicas e degenerativas como diabetes, obesidade, hipertensão e alguns tipos de câncer.
3. Meio ambiente
Segundo a ONU, o setor pecuário é o maior responsável pela erosão de solos e contaminação de mananciais aqüíferos do mundo. A ONU também estimou que cerca de 14,5% das emissões de gases do efeito estufa oriundas de atividades humanas têm origem no setor pecuário. A maior parte do desmatamento da Amazônia tem sua origem na produção de carnes, laticínios e ovos. 97% do farelo de soja e 60% do milho produzidos globalmente são utilizados não para consumo humano, mas para virar ração para as fazendas e granjas industriais, produzindo alimentos a uma eficiência muito baixa.

4. Sociedade
A produção de alimentos através da atividade pecuária não é apenas ambientalmente degradante, mas também contribui significativamente para o desperdício global de alimentos, uma vez que são consumidos de 2 a 10 Kg de proteína vegetal (por exemplo, soja) para produzir apenas 1 Kg de proteína de origem animal. Em um mundo com 1 bilhão de pessoas que passam fome, jogar toda essa comida no lixo é socialmente inaceitável. Ademais, o setor pecuário concentra a maior parte da mão-de-obra escrava rural brasileira.
Mas, e a proteína?
Proteínas são compostas por aminoácidos e não existe nenhum aminoácido necessário ao organismo humano que não seja encontrado nos alimentos do reino vegetal. Alguns grupos alimentares, como cereais (arroz) e leguminosas (feijões) apresentam o que chamamos de aminoácido limitante. É um aminoácido em quantidade um pouco menor do que os outros. No entanto, existem todos os aminoácidos essenciais em cada um desses grupos. Grande parte da confusão provém da falta de conhecimento de alguns profissionais de saúde sobre conceitos básicos de nutrição, como: valor biológico, aminoácido limitante, NPU, qualidade da proteína (PDCAAS), proteínas complementares, digestibilidade. Se o indivíduo atinge suas necessidades calóricas diárias com alimentos baseados em grãos, automaticamente a sua cota protéica com todos os aminoácidos essenciais é atingida. Estudos populacionais mostram que a dieta vegetariana (inclusive a vegana) excede a necessidade de aminoácidos essenciais. Para acabar com as dúvidas foi realizado um amplo estudo de revisão sobre o assunto (metanálise). Foi demonstrado que não há diferença na incorporação da proteína no corpo humano quando ela é proveniente do reino animal ou vegetal.

(explicação sobre proteínas e tabela extraídos do https://www.svb.org.br/home/205-vegetarianismo/saude/artigos/131-protes-e-vegetarianismo)
Quatro anos depois qual resultado? Minha saúde melhorou, me tornei mais empática e mais amorosa, criei mais consciência ambiental, comecei a agir mais compreendendo que a mudança está na minha mão e que posso sim fazer política todos os dias no meu prato e nas minhas decisões de consumo, me abriu para caminhos para outras incoerências que a grande mídia não mostra, sutilizou minha energia, foi a minha porta de entrada para um olhar para dentro, para o meu autoconhecimento, entre várias outras coisas. No início de outubro passei quatro dias em São Paulo participando do Vegfest - congresso vegetariano promovido pela Sociedade Vegetariana Brasileira e a palavra que mais ouvi ou foi animais, vegetariano, vegano, plantas, sem dúvidas foi AMOR. A base do vegetarianismo é o amor. Quando você tem a capacidade de amar um animal a ponto de mudar toda a sua alimentação de uma vida, como continuar sendo a mesma pessoa? Tudo muda. Sua forma de enxergar o mundo, sua forma de se auto enxergar, sua visão se expande e você se abre para novas possibilidades.
Caso queira aprofundar um pouco mais sobre esse assunto sugiro alguns documentários:
Cowspiracy, 2014: documentário examina os impactos da pecuária e pesca na natureza e investiga como organizações ambientais lidam com a situação.
A carne é fraca, 2004: uma produção brasileira. A carne é fraca é um documentário sobre a indústria da carne brasileira e demonstrar seus impactos com a natureza, os animais e a nossa saúde.
Food choices, feito pelo cineasta Michal Siewierski em sua jornada de três anos para expor a verdade sobre nossas escolhas alimentares, como eles nos afetam, outros e nosso planeta.
Okja, 2017: não é um documentário, mas um filme que aborda a relação afetiva entre humanos e animais.
Para aguçar vocês vou deixar algumas fotos de pratos feitos 100% sem sofrimento, zero origem animal:




Restaurantes veganos ou com boas opções em Floripa:
Origem: Servem desde de almoço, opções para café e jantar. No sábado possuem um super brunch. R. Dr. Agostinho Sielski, 134-A - Santa Mônica.
Shiva: buffet de almoço super delicioso. Rodovia Dr. Antônio Luiz Moura Gonzaga, 3137 - Rio Tavares
Botânico: possuem alguns bowls para almoço e janta, açaí e um ambiente super aconchegante. Multi open shopping - Rio Tavares.
Aldeia: um dos mais antigos exclusivamente veganos na ilha. Servem buffet, aberto todos os dias. Além do comida maravilhosa possuem espaço para cursos, aulas de yoga, etc. Av. Pequeno Príncipe - 1202 - Campeche
Ahimsa: hamburgueria maravilhosa, apenas precisam provar (também possuem delivery). Juro, já levei amigos não vegetarianos e eles dizem que não perde nada para um hambúrguer com carne. R. Manoel Isidoro da Silveira, 450 - Lagoa da Conceição
Amo café vegano: possuem desde opções para comer lá (almoço, café e janta), como congelados e outras coisinhas para levar. Peça a torta alemã. <3 R. Profa. Enoé Schutel, 46 - Trindade
Ilhaveg: todo mês acontece no córrego uma feira 100% vegana. Várias comidinhas deliciosas, roupas, cosméticos, gente com energia boa e muito amor. https://www.facebook.com/ilhaveg/
Mas, Manu, parar com tudo assim de uma vez? Acho que não consigo. Nem precisa, vai com calma, sem violência. Se respeita e vai no seu ritmo. Tira um tipo de animal, depois outro e assim vai indo. Uma boa forma de começar é com o #segundasemcarne. Quem promove é a Sociedade Vegetariana Brasileira , você consegue mais informações aqui: https://www.segundasemcarne.com.br/
Para quem quiser se aprofundar ainda mais no assunto sugiro muito ler alguns dos artigos aqui: https://www.svb.org.br/publicacoes/trabalhos-academicos
Fontes para esse texto:
https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/quimica/consumo-carne-aquecimento-global.htm

Manuela Fretta
Se você estiver querendo saber mais sobre vegetarianismo/veganismo ou quer ajuda para fazer a transição, por favor, me chame, será um prazer ajudar. :)
instagram: @manufretta
Nos dias 12 e 13 de novembro teremos o evento Nutriversidade, que será no auditório da reitoria da UFSC. Veja a programação completa, empresas apoiadoras e se inscreva aqui: https://www.sympla.com.br/nutriversidade__379547
Ao se inscreverem vocês estão concorrendo a um voucher de R$150,00 no Feirão dos Calçados. Teremos palestras com nutricionista, psicóloga, engenheiro de alimentos e muito mais. Diversas empresas estarão presentes nos apoiando, dentre elas o Sesc com demonstração durante todo o evento de receitas deliciosas, academia Curves e academia Just Gym vão sortear 1 mês de academia cada, Fábrica de suplementos vai dar diversas coqueteleiras e pastas de amendoim para degustação, Emporio Doll, Café La Bohème, Natú, Víveres (biscoitos veganos), dentre diversas outras empresas.
O ingresso é 1 quilo de alimento não perecível que doaremos para o Projeto Resgate, que faz refeições para moradores de rua. O evento é aberto para toda comunidade e entregaremos certificado de horas de pesquisa e extensão aos acadêmicos. Esperamos por vocês. ❤
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